sexta-feira, 3 de junho de 2011

CULTURA NERD - Rei Arthur - Livros

Bons regressos amigos deste blog... folgo em dizer que é imensa satisfação traçar estas linhas para os nobres leitores.... opa, vejam só o que ler livros épicos fazem com a gente, rsrsrs
Bom, esta é a terceira parte do especial rei Arthur que trago a vocês, e deste vez vou falar sobre o que mais gostei e admirei dentre os meios de divulgar a saga, os livros, em especial a trilogia que irei descrever a vocês, então vamos ao que interessa...

As Crônicas de Arthur é uma série em três volumes escritos por Bernard Cornwell, onde ele conta a lenda de Arthur, irei falar dos três livros separadamente, iniciando pelo 1° Volume (não me diga!!!):

O Rei do Inverno - As Crônicas de Artur Volume 1 - Bernard Cornwell
O livro faz parte de uma série muito elogiada que mescla romance e fatos históricos na tentativa de recontar a história de Artur, uma figura histórica que de tão mitológica, às vezes parece ate irreal. Bernard Cornwell nos mostra um Artur que nunca foi rei e que, pelo contrário, era filho bastardo do rei Uther. O autor nos mostra um pouco da trajetória desse personagem tão famoso da historia mundial com uma escrita excelente e uma narrativa que apesar de bem detalhada não é cansativa e acaba nos instigando mais para descobrir o desdobramento da história.
O livro trata da Idade Média como ela realmente era: muita violência, crueldade e maldade. E acabei conferindo e confirmando que a descrição era bem fiel e nada romântica. Os fatos são narrados por Derfel, que conheceu Artur ainda muito jovem, quando vivia no povoado de Merlin. Depois que seu povoado é devastado pela guerra que assolava a Britânia, após a morte do rei Uther, Derfel se torna cavaleiro e pretende seguir Artur.
Através da narrativa detalhada de Derfel conseguimos vislumbrar o quanto a vida era difícil nessa região e nessa época: a Britania precisava de um rei e haviam vários candidatos para dominar a região, não apenas os saxões, inimigos históricos desse povo. Derfel nos mostra situações de guerra, ataques muitas vezes desnecessários, assassinatos com requintes de crueldade, estupros, manipulações políticas e apesar de viver naquela época e ser um cavaleiro vemos que Derfel algumas vezes se questiona sobre o que está fazendo ou sobre o que seus companheiros fizeram. Achei isso bem interessante.
O fato de a narrativa ser feita por alguém que está vivendo a situação nos proporciona uma leitura sem a visão de mundo que teríamos hoje e, por isso, sem julgamentos e preconceitos. Derfel nos apresenta uma Britânia supersticiosa que oscila entre o Paganismo e o Cristianismo como religião oficial. Sacrifícios com animais e humanos, feitiços e manias dos guerreiros são descritos com detalhes ao longo do livro. Personagens lendários como Merlin, Morgana, Nimue são narrados de maneira bem pessoal, de um ponto de vista de quem conviveu com eles, mostrando que a vida desses personagens não era nada fácil, pelo contrario, a maioria sofreu abusos, feridas mentais e físicas, que acabaram sendo esquecidas quando se tornaram mitos.
Cornwell, através de Derfel, nos apresenta um Artur justo e bom para os parâmetros daquela época, mas que também tinha seus interesses e usava de seu magnetismo pessoal para arrebanhar seguidores e conquistar alianças. Artur sempre parece intervir para evitar uma guerra desnecessária, enquanto a maioria deseja um combate. Falando em combates, a descrição destes é rica em detalhes e mostra a realidade do que é uma guerra. Se hoje em dia as guerras já são deploráveis, imagine na Idade Média, onde a noção de direitos das mulheres e crianças e de direitos humanos era mínima. Aldeias queimadas, mulheres e crianças escravizadas e violentadas, homens mortos em batalhas sangrentas são uma constante no livro. Particularmente não achei esse realismo ruim, acredito que o sucesso de Cornwell realmente se deve , alem de sua excelente narrativa, o fato de mostrar as coisas como realmente aconteciam e não intocadas donzelas e nobres cavaleiros (quero deixar claro que não acho ruim uma historia sobre a Idade Média ter intocadas donzelas e nobres cavaleiros,ok? Rs).

O Inimigo de Deus - As Crônicas de Arthur - Volume 2
Este é o segundo volume que retrata a partir de novos fatos e descobertas arqueológicas o maior de todos os heróis como um poderoso guerreiro que luta para manter unida Britânia, no século V, após a saída dos romanos. A Britânia está pronta expulsar de uma vez os invasores saxões. Mas se por um lado o país está unificado politicamente, por outro a luta entre as religiões ancestrais e o cristianismo divide o povo. Diante da propagação da nova fé, Merlin empreende uma busca pelo caldeirão sagrado - objeto mágico poderoso, capaz de trazer de volta os antigos deuses e aniquilar os saxões e os cristãos. Ao longo desta jornada, ele é acompanhado pelo guerreiro Derfel em sua peregrinação por lugares distantes e perigosos, onde vivem aventuras inesquecíveis
O inimigo de Deus
Este é o segundo volume das Crônicas de Artur do autor Bernard Cornwell. O Inimigo de Deus supera muito o primeiro volume, O Rei do Inverno. Mas acho que isso é natural. No primeiro volume, o leitor deve conhecer os personagens, o ambiente e a época. Já no segundo, o escritor tem mais liberdade para trabalhar com a história, pois pode assumir que o leitor leu o primeiro volume e conhece todos os fatores que mencionei.
O Rei do Inverno termina com a vitória de Artur na batalha do Vale do Lugg. Esta foi a melhor descrição de uma batalha que já li. Finalmente Artur conseguiu unificar os reinos britânicos, porém os conflitos entre os critãos e pagãos podem colocar tudo a perder.
É neste contexto que começa a aventura de O Inimigo de Deus. As passagens mais emocionantes da saga de Artur estão neste volume. O livro prende o leitor e você não consegue parar de ler, não nota o tempo passar. Tudo o que você quer é deixar-se envolver pela história.
Aqui , Cornwell apresenta a formação da futura “Távola Redonda” e a origem de Excalibur. Mostra a verdadeira face de Lancelot e o verdadeiro objetivo de vida de Merlin. Neste volume, encontram-se passagens que eu gostei muito e entraram para minhas favoritas como a busca do caldeirão de Merlin e a humilhação que Ceinwyn faz Lancelot passar. Esta última também tem o contexto romântico da situação. Não é um romance conto de fadas, mas é bonito, envolvente. E a partir daí, você começa a gostar cada vez mais do incrível Lorde Derfel e em algumas situações, até se esquece que Artur é o centro da história
O Inimigo de Deus segue cumprindo com a mesma precisão a proposta de narrar as histórias sem o faz-de-conta e romantismo do que muitos pensam ter sido o tom predominante da época. As batalhas são descritas sem poupar qualquer detalhe mais sangrento, algumas convenções sociais da época podem revoltar assim como outros valores chegam a soar até mesmo ilógicos nos dias de hoje. O trabalho de Cornwell nos hábitos alimentares, religiosos e afins continua sendo um dos pontos altos da trilogia.

O interessante é que se em O Rei do Inverno a magia aparece de forma extremamente dúbia (algumas vezes até mesmo é questionada), em O Inimigo de Deus com uma presença maior de Merlin aparentemente a magia aparece com mais força, em alguns momentos sem dar tanta chance para algum questionamento (como acontecia no primeiro livro, quando quase sempre as coisas eram explicadas a partir do consumo de substâncias alucinógenas). E o que chama a atenção para como esse elemento passa a aparecer ao longo da narrativa, é justamente o fato de que as crenças das personagens passam a ser o eixo principal da obra.

Por um lado temos Merlin, Nimue, Derfel e outros na busca pelo Caldeirão (o Cálice Sagrado?), que traria os deuses antigos novamente para a Britânia. Do outro, temos o cristianismo ganhando cada vez mais seguidores, e com isso a igreja conquistando mais poder – e também o atribuindo a figuras como Lancelote (que deusdocéu, nunca imaginei que poderia ser caracterizado como personagem tão desprezível!). Há também Guinevere (vaca!) como seguidora de Ísis e Artur como um ateu. O que cada um acredita passa a ser razão da luta, uma vez que Artur finalmente consegue unificar a Britânia.

Eu ainda me surpreendo com a forma como Cornwell retratou Lancelote. Ele sempre foi um herói nas narrativas arturianas, e mesmo quando se apaixona por Guinevere é como representação típica do amor romântico: amar o que não pode ser seu, o que é impossível. Mas em O Inimigo de Deus ele simplesmente torna-se uma das personagens mais mesquinhas e manipuladoras que já vi em algum romance. E nesse caso é mérito do autor, conseguir fazer de uma personagem que via de regra é sempre tão querida algo tão detestável. Requer muito mais do que coragem, já que o resultado pode ser desastroso (o que não acontece aqui, vale frisar).
Excalibur - As Crônicas de Arthur - Volume 3 -
A saga do maior guerreiro de todos os tempos vista à luz das mais recentes descobertas arqueológicas chega ao seu final neste terceiro volume da trilogia ´As Crônicas de Arthur´. Uma conclusão surpreendente das aventuras de um homem que todos pensavam ter sido Rei, mas que jamais usou uma coroa.
Finais de sagas são sempre tristes. Não importa se porque a conclusão por si só seja melancólica ou feliz, a verdade é que depois de ler vários livros acompanhando uma determinada personagem, você se apega e aí às vezes a “tristeza” do fim tem mais a ver com a despedida do que com o término da história. E não poderia deixar de ser assim com Excalibur, que completa a trilogia As Crônicas de Artur, de Bernard Cornwell.
De qualquer modo, Excalibur conclui muito bem a saga. E o título é perfeito, porque dos três eu achei que foi o que mais teve batalhas, mais sangue. Nesse desfecho Artur finalmente consegue se livrar dos saxões (embora todos soubessem que temporariamente) mas aí passa a ter que lidar com as disputas por poder dentro do próprio reino que jurou defender. E se você lembrar qual é a conclusão da lenda de Artur, e mesmo retomar a condição do narrador Derfel desde o primeiro livro (vivendo em um mosteiro, recebendo ordens de Samsum), já dá para imaginar que não é exatamente um “final feliz”.
O que mais gostei aqui é, mais uma vez, como Cornwell trabalhou com as personagens. Depois de dois livros eu achava que Guinevere era a vaca mais nojenta de qualquer história já escrita, e em Excalibur ela reaparece como uma personagem extremamente cativante, inclusive participando das batalhas. E não de um jeito forçado, como se ela tivesse acordado da noite para o dia mais bacaninha. Houve um desenvolvimento progressivo, que levou a isso (e me faz lembrar de quando no primeiro livro Igraine diz que odiava Guinevere e Derfel comenta que então falhou miseravelmente em descrevê-la).
Outra personagem que muda é Nimue, sempre amiga do narrador e nessa conclusão completamente louca e obcecada com sua religião, ao ponto de fazer o impensável para conseguir o que precisa para completar um ritual: Excalibur e o filho de Artur. Ela aparece como mais uma peça em um tabuleiro cheio de personagens prontas para atacar Artur, que falhou justamente por não aceitar sua natureza, a de ser rei.
Vale a pena acompanhar a trilogia, e deixar para trás algumas imagens já cristalizadas sobre o ciclo arturiano. Insisto que a questão de ser a mais verdadeira história de Artur não é exatamente a melhor definição, porque Cornwell mesmo comenta no posfácio que nenhum dos dados nos quais se baseou eram conclusivos e/ou definitivos. Foram inspiradores, no final das contas. O brilho da obra no sentido histórico ainda fica por conta de como o autor descreve os hábitos da época, como por exemplo as comemorações de Beltane e Imbolc.

"Artur provavelmente não foi rei, pode não ter vivido, mas apesar de todos os esforços dos historiadores em negar sua existência, para muilhões de pessoas em todo mundo ele ainda é aquilo que um copista no século XIV chamou de 'Arturus Rex Quondam, Rexque Futurus': Artur, Nosso Rei Antigo e Futuro" - "Excalibur", pg. 529.

Estes são os livros que eu recomendo, além dees temos As Brumas de Ávalon, cujo filme já falei no ultimo post, e muitos outros títulos, pois a lenda de Arthur é conhecida no mundo todo e cada um a conta de sua maneira
Me despeço dos amigos com a frase que marcou este saga, “ O destino é inexorável!” até  a próxima semana.




Rafael Lorenzeti Sant´Ana é leitor de quadrinhos há mais de 20 anos, fã de rock´n roll, jogador de RPG, mochileiro, coordenador de logística nas horas vagas e encerrou este post sentado na taverna bebendo hidromel em seu horn!

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