quinta-feira, 12 de maio de 2011

Espaço Cultura e Política.

A partir de hoje nossas quintas-feiras serão mais politizadas. O Blog "Paixão por Cultura" tem o imenso prazer de trazer para este espaço o irreverente jornalista e roteirista Galdino Mesquita, que com seu humor inteligente estará pautando as discussões políticas e culturais do nosso Blog. Nossa intenção é gerar discussões que discorram sobre a origem de movimentos políticos e culturais e que exerceram de alguma forma influência em nosso jeito de exercer cidadania, política e claro, cultura nos dias de hoje!

Para abrirmos com chave de "ouro" nosso "Espaço Cultura e Política" nada melhor que falarmos do próprio!
Boa leitura!

Sobre liberdade e OURO para o bem do Brasil
Foi no 13 de maio de 1888, por meio da Lei Áurea, que a "liberdade" finalmente foi alcançada pelos negros no Brasil. Esta lei, assinada pela Princesa Isabel, abolia de vez a escravidão no país. Mas os cofres das elites de Portugal e daqui já estavam abarrotados de riquezas: o sangue e o suor dos negros haviam se tranformado em ouro.

Num outro 13 de maio, 44 dias após o golpe militar de 1964 - que jogou o Brasil numa feroz ditadura por duas décadas - pouca gente se lembrou da Lei Áurea e dos escravos. Neste dia, o magnata das comunicações Assis Chateaubriand, o Chatô e seus Diários Associados lançaram uma campanha: Doe Ouro para o Bem do Brasil. Hoje, completa-se 47 anos desta campanha que foi o golpe em cima do golpe. Chegou-se a cogitar que a arrecadação de pequenas joias do povo somou uma tonelada de ouro! O valor arrecadado jamais foi revelado, tampouco o destino que as joias tiveram. Ninguém sabe, ninguém viu e o regime militar cuidou de calar a boca de quem tocasse no assunto.

Meus pais operários doaram o pouco que havia de ouro em casa. O povo ajudou o novo governo, a ditadura, com doações de anéis, pulseiras e pequenas fortunas. O Rotary Club promoveu a Semana Cívica do Ouro. O governador Adhemar de Barros doou o seu salário de 400.000 mil cruzeiros. A indústria doou veículos, empresários contribuíram com cheques, que chegaram a milhões. Cem mil pessoas doaram 400 quilos de ouro e meio bilhão de cruzeiros em duas semanas. Quem fazia a doação, recebia uma aliança de latão com a inscrição "Doei ouro para o bem do Brasil".

Eu fui com o meu pai entregar um anel e duas alianças para os militares que recolhiam as doações numa bandeira do Brasil, em frente ao Museu Histórico da rua Barão de Jundiaí. Vi pais e mães de muitos amigos também, depositando no pano verde e amarelo suas esperanças de um Brasil melhor... Ah, o Chatô, que lançou a campanha, era o dono de um império jornalístico na época, os Diários Associados, que chegou a reunir dezenas de jornais, revistas e estações de rádio, e foi também pioneiro da televisão no Brasil, criando a TV Tupi em 1950. Penso que ele não ficou com esse ouro todo. Chateaubriand faliu e morreu quatro anos depois. Ao lado de seu caixão, dois quadros seus: um cardeal de Velázquez e um nu de Renoir, simbolizando, segundo amigos, as coisas que mais amou: o poder e a arte.

 
 
Galdino Mesquita é jornalista, roteirista e produtor de TV, professor de redação e jornalismo com especialização em Educação Ambiental.

galdinomesquita@globo.com

Um comentário:

  1. William, você publicou este texto no dia 12 de maio e o Jornal Bom Dia fez reportagem de duas páginas no dia 18, sobre o assunto. É sinal que seu blog tá no caminho certo. Parabéns.

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